"E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava?
Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate.
Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas.
Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim.
Carnaval era meu, meu."

(Clarice Lispector )







quinta-feira, 1 de maio de 2008

Elegia da Mudança






Meu compadre Eurico mudou-se.
Se eu fosse poeta como ele lhe faria um poema
cujo título seria Elegia da Partida.
Dona Iolanda ainda lhe deu um pote com camarão ao molho de côco,
dizendo, meio chorosa:
"Leve pro senhor tomar uma quando chegar no Recife."
Hoje minha postagem não podia ser outra,
pois meu vizinho e compadre deixou a sombra das mangueiras, a bodega do véio, a baiúca da Selma,
e o poço antigo em que se diz que o holandês bebeu água;
o meu compadre deixou o Sítio das Quintas,
esse pedacinho da "terra mais garrida",
fincado no Horto del Rey.

Disse-me ao se despedir: vou voltar, sei que ainda vou voltar.
Ecoou em minh'alma a canção para um exilado, do Chico:
Vou voltar,
sei que ainda vou voltar
para ouvir cantar uma sabiá...

Volta, compadre, volta sempre, nem que seja de visita!
E olha que domingo, dia 04 de maio, é o aniversário de Dona Iolanda,
a matriarca do sítio.
Não me vá faltar, hein!


Fonte da img:

2 comentários:

Loba disse...

partidas são sempre dolorosas - especialmente pra quem fica. acredito que seu compadre não partiu. partiu sua parte material, esta que levou junto o camarão com coco de dona Iolanda (deu uma vontadezona de provar!!!!). no domingo ele estará de volta, em outros dias tb. e tenho uma leve desconfiança que mais dele ficará no Sítio dos seus encantos, viu? rs...
beijo compadre!

Luis Eustáquio Soares disse...

vou voltar, sei que ainda vou voltar, rumo ao sabiá... e oxalá possamos voltar principalmente quando saímos, que possamos trazer a volta nas voltas de nossas artérias e que a volta, mesmo sendo ida, seja o espalhamento de nossos antes, as amizades, os gestos, os carinhos, os abrigos, o sabor, o olhar, os temperos de nossos antes, em nossas líricas presenças de conhecer-nos e nos experimentar, de viver com... e que a ida seja ondas de voltas pelo mundo do agora e do depois, e assim possamos voltar novamente, cheio de novas voltas e novas idas, biodiversificando nos abraços.
prazer em conhecê-lo, e obrigado pela visita...
meu abraço,
luis de la mancha