"E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava?
Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate.
Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas.
Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim.
Carnaval era meu, meu."

(Clarice Lispector )







domingo, 7 de agosto de 2011

CLÁSSICO E PSEUDOCLÁSSICO (ou um naïf-reflexivo)


Fernando Pessoa

Orhan Pamuk



VII
Ponho na altiva mente o fixo esforço
Da altura, e à sorte deixo
E a suas leis, o verso;
Que, quando é alto e régio o pensamento,
súdita a frase o busca
E o escravo ritmo o serve.


Ricardo Reis (Fernando Pessoa)






Presenteia-me, mui gentilmente, um colega de ofício, com a revista de idéias e ensaios, SERROTE. Indica-me, especialmente, o texto do nobel de literatura 2006, Orhan Pamuk, que num mergulho no Schiller de Sobre a Poesia Ingênua e Sentimental, discorre sobre a atitude ora naïf, ora reflexiva de leitores (e autores), ao escrever/ler uma obra.

Essa interessante abordagem levou-me, de imediato, ao poeta português Fernando Pessoa.


Ninguém jamais foi escritor sem ter essa angústia de expressão entre o reflexivo e o emocional, de que trata Pamuk, em seu ensaio. Por isso Ricardo Reis (Pessoa) já cuidava dessa dicotomia entre idéia e sentimento, em certo apontamento sem data que abre Ficções do Interlúdio/4 – poesias de Álvaro de Campos. (minha edição é de 1983):


“Desde que se usa de palavras , usa-se de um instrumento ao mesmo tempo emotivo e intelectual.”, dizia o Mestre Reis.


E mais adiante:


“O que distingue a arte clássica(...) da arte pesudoclássica é que a disciplina de uma está nas mesmas emoções, com uma harmonia natural da alma, que naturalmente repele o excessivo, ainda ao senti-lo; e a disciplina da outra está em uma deliberação da mente de não se deixar sentir para cima de um certo nível. A arte pseudoclássica é fria porque é uma regra; a clássica tem emoção porque é uma harmonia.”


Por isso, Reis discorda de Álvaro de Campos, quando ele afirma que "o poeta vulgar sente espontaneamente e projeta essa emoção nos versos", e que , só depois, ao refletir sobre os cânones literários, "sujeita essa emoção a cortes, retoques, e outras mutilações", obedecendo a uma regra exterior:


“Nenhum homem foi alguma vez poeta assim. A disciplina do ritmo é aprendida até ficar sendo parte da alma: o verso que a emoção produz nasce já subordinado a essa disciplina(...) a emoção dá (à frase) o ritmo e a ordem que há nela, a ordem que no ritmo há.”


Quando o pensamento do escritor ou do poeta está imbuído de uma idéia que produz uma emoção harmônica, já leva ao fraseado o equilíbrio da emoção e do sentimento, e a frase "súdita do pensamento que a define, busca-o, e o ritmo, escravo da emoção que esse pensamento agregou a si, o serve,” como diz o verso final da ode que abre esta postagem.


Pessoa já havia resolvido, senhor que era do seu ofício, essas questões de que hoje ainda se ocupam os escritores contemporâneos. Não há predominância da idéia sobre a emoção, nem o contrário. Sendo a palavra um instrumento emotivo-intelectual, fica abolida essa dicotomia entre o escritor naïf e o reflexivo. Basta-nos, a nós os naïves, alcançarmos a disciplina de um Fernando Pessoa. Basta isso! Nada mais, nada menos. É pouco?


Fonte do texto:
UM CRONIST'AMADOR

terça-feira, 1 de março de 2011

O FUNDADOR DO APOIS FUM - por Eustórgio Wanderley

Pierrots mirins


Não se extingüiram, de todo, os ecos do carnaval, quando eu focalizei o tipo popular de Osvaldo de Almeida, o criador do neologismo "frevo" no carnaval pernambucano.

Agora cabe a vez de um não menos popular tipo, como o primeiro, repórter, e carnavalesco, figura que ficou inesquecida, pois, ainda hoje, é recordada com saudade pelos colegas de imprensa e pelos que com ele privaram, quer nos meios carnavalescos dos clubes pedestres e "blocos", quer nos meios forenses, pois ele era também uma espécie de rábula, procurador em diversas causas.

Trata-se de Guilherme Araújo. Muito inteligente e empreendedor, desenvolvia grande atividade, embora seu cultivo intelectual fosse bem reduzido, não passando de um ligeiro curso primário.

Sua sagacidade, entretanto, supria quaisquer outras falhas, sendo maneiroso, delicado, sabendo tirar partido das situações em que se encontrava, não deixando – a quem não o conhecesse bem – aquilatar o seu preparo mental.


No Jornal Pequeno

Por muitos anos trabalhou no Jornal Pequeno, onde fazia a reportagem marítima e a da polícia, mostrando-se competente pela longa prática do metier como dizem os cronistas mundanos.

Dando notícia das partidas dos navios do nosso porto, simpatizou ele com o verbo zarpar com que iniciava os períodos assim:

"Zarpou ontem para a Europa o navio tal..."

"Zarpa hoje para o Rio"...

O diretor do jornal reparou naquela chapa e, certa vez, lhe disse:

- Ó, seu Guilherme! Você não conhece outro verbo sem ser zarpar com que noticia a partida dos navios?

- Conheço, sim, senhor!

- Pois trate de empregá-lo porque, do contrário, quem acaba zarpando daqui é você. Está entendendo?

- Estou, sim, senhor!

E o Guilherme ficou a pensar em outro verbo... Dois dias depois partia um navio para o Norte e ele, pensando haver resolvido o problema, escrevia:

"Amanhã zarpará para o Pará, o vapor Pará..."

O Dr. Tomé Gibson, ao ler aquela séria cacofônica de paras e parás não pôde se zangar, porque desandou a rir... sem parar também.


Jornalzinho carnavalesco

Certa vez lembrou-se o Guilherme de editar um jornalzinho carnavalesco de propaganda comercial. Como era muito estimado no comércio, não lhe foi difícil angariar anunciantes que, não só custeavam a impressão do jornal, como ainda lhe proporcionaram razoável lucro.

Intercalava, nos anúncios historietas, anedotas, versos, epigramas etc. Durante vários anos publicou seu jornalzinho com êxito crescente.


O Apois Fum

Havia naquele tempo um gazeteiro, (o que no sul chamam jornaleiro, vendedor de jornais) apelidado Fon-fon, não porque vendesse a revista carioca de igual nome, e sim, porque tinha o lábio superior e o véu palatino fendidos, a que chamam lábio de lobo, o que o impedia de pronunciar bem certas sílabas, dando, a quase todas as consoantes o som de F. Quando se lhe dizia qualquer coisa de que ele duvidasse o Fon-fon tinha o costume de replicar:

- Apois fum! Quando o que ele pretendia dizer era: - Pois sim...

O Guilherme de Araújo aproveitou o dito, que se tornou popular, e organizou um bloco carnavalesco de muito sucesso no Recife, não somente pelo grande número de moças e de rapazes de que se compunha, como também por exibir um sugestivo carro alegórico, o que era uma inovação entre os blocos de carnaval na época.


Quem não cheirou levante o dedo!...

Na estação do Brum, da antiga Great Western, era visto um vendedor ambulante de perfumes que, enquanto o comboio estava parado, aguardando a hora da partida, percorria os carros com um vidro dos seus perfumes, desarrolhado na mão, dirigindo-se, delicadamente, aos passageiros:

- O cavalheiro dá licença?...

E, antes que a licença fosse dada, ele passava, de leve, no dorso da mão do passageiro, a rolha do vidro umedecida no perfume, solicitando:

- Por obséquio, queira cheirar e depois me diga se não é puro Houbigant de Paris.

Assim, percorria toda composição e, ao regressar, pelo mesmo caminho, entre os bancos dos vagões, ia procurando vender seu produto, ao mesmo tempo que indagava:

- Quem não cheirou levante o dedo!...

O dito pegou, ficando como pilhéria carnavalesca: O Guilherme se aproveitou do caso e me pediu que escrevesse a letra e a música de uma pequena marcha carnavalesca para ser cantada pelos componentes do Bloco Apois-fum, o que fiz com grande prazer para o seu irrequieto diretor.


Seu tipo físico

O Guilherme era de pequena estatura, mais ou menos gordo, com o ventre saliente. Moreno, de lábios carnudos e roxos, os cabelos muito crespos e castanhos claros, partidos ao meio. Olhos verdes e bigodes à kaiser, como estava na moda. Era ele o que se costuma chamar de alaranjado. Fumava vastos charutos. Sempre elegantemente vestido, ostentando altos colarinhos duros, mirabolantes gravatas e não menos estupefacientes coletes, o Guilherme calçava botinas de polimento, abotoadas ao lado, tendo a gáspea cinzenta ou marron clara.

Um grande emotivo, amava a família com desvelo, procurando cercá-la do maior conforto, para o que adquirira no Barro, subúrbio do Recife, uma aprazível vivenda.


O coração o matou

Uma tarde, no quarto onde havia um oratório com imagens de santos, uma vela acesa, caindo sobre a toalha que forrava o altar, incendiou-o. Ao divisarem o clarão do incêndio, gritaram:

- Fogo! Fogo!... A casa está se incendiando!...

O Guilherme corre para extingüir as chamas que ameaçavam, se propagar por todo o prédio. Depois de grande luta foi dominado o perigo. O esforço, porém, que ele fez foi sobre-humano para o seu coração já afetado de miocardite.

Dias depois, sentindo-se mal, declarou:

- Cheguei ao fim!...

Serenamente fechou os olhos e adormeceu. Adormeceu para não mais despertar, como o fazia cedo, diariamente, para ir à sua labuta no Jornal Pequeno e na Polícia Marítima, noticiando os passageiros que chegavam e os navios que zarpavam...

Pobre Guilherme de Araújo! Foi um lutador e um bom!


(WANDERLEY, Eustórgio. Tipos populares do Recife antigo)

Fonte da postagem
http://www.jangadabrasil.com.br/marco19/pa19030b.htm

SOBRE EUSTÓRGIO WANDERLEY


Eustórgio Wanderley nasceu no dia 5 de setembro de 1882, na cidade do Recife, PE, onde estudou e morou durante quase toda sua vida. Adulto, dedicou-se ao jornalismo, atuando no Diário da Manhã e no Jornal do Recife.

Dando vazão aos seus pendores musicais, foi parceiro de Nelson Ferreira em diversas valsas e canções, sendo um dos primeiros pernambucanos a participar, pelo selo da RCA – Victor, da discografia brasileira, através de suas cançonetas que fizeram muito sucesso, como A pianista, O almofadinha e A melindrosa.

Durante o tempo que morou no Rio escreveu no Correio da Manhã, em A Noite Ilustrada, no Jornal do Brasil e em O Malho.


Em 1909 compôs a versão mais e picante e maliciosa da polca No bico da chaleira (a primeira versão foi escrita por Juca Storoni também no mesmo ano), gravada na Casa Edison pelos Os Geraldos.


Poeta, teatrólogo, foi membro da Academia Pernambucana de Letras e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.


Quando residia no Recife, publicou em dois volumes, Tipos Populares do Recife Antigo (1953/54).


Faleceu no dia 31 de maio de 1962, no Rio de Janeiro.

Fonte da mini-biografia:

http://cifrantiga2.blogspot.com/2008/02/eustrgio-wanderley.html

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O BLOCO CARNAVALESCO LÍRICO APÔIS FUM - por João Montarroyos



BLOCO APÔIS FUM: O LIRISMO E A OUSADIA DE MOMO*

João Montarroyos**
Professor, escritor e pesquisador



Até a década de 1920, os carnavais do Recife aconteciam ao sabor das evoluções dos clubes pedestres, os quais geralmente representavam algumas profissões durante o período de momo. Entre os principais, pode-se citar o Vassourinhas, o Empalhadores, o Toureiros e o Batutas de São José, o Caiadores, o Clube das Pás, que até hoje povoam os nossos corações de paixão e saudosismo.

A partir daquela década, contudo, o carnaval recifense irá se abrilhantar de emoção e cores que somente os blocos carnavalescos, aos quais chamamos “blocos líricos”, puderam proporcionar ao folião. Surgidas a partir dos cordões de isolamento onde podiam desfilar as senhoras e senhoritas da época, tais agremiações vingaram graças ao sentimentalismo já impresso pelos presépios, onde as mulheres cantavam e os homens tocavam somente seus instrumentos de pau-e-corda, como sejam os bandolins, violões, pandeiros, etc., admitindo, quando muito, além disso, uma gaita de sopro. Os Irmãos Valença (João e Raul) tiveram fundamental importância em tal processo, pois era muito famoso o presépio que mantinham no Casarão da Madalena, no sítio dos Valença, uma tradição herdada de seus avós.

Assim, como não aprazia às senhorinhas frequentarem o carnaval dos clubes pedestres, tais grupos cantantes acabaram fundando os blocos de rua, uma extensão de seus elegantes saraus.

Os versos da marcha Último Regresso, de Getúlio Cavalcanti, nos dão bem uma dimensão desta verdade (grifo do autor):

É lindo ver
O dia amanhecer
Com violões e pastorinhas mil,
Dizendo bem
Que o Recife tem
O carnaval melhor do meu Brasil!

Vários foram os blocos daquela década áurea do carnaval pernambucano: o Bloco das Flores (o primeiro a se formar), Flor da Lira, Andaluzas, Pirilampos, Crisântemos, destacando-se especialmente, entre eles, o bloco Apôis Fum, uma vez que sua estréia realmente viria a mudar os rumos dos carnavais de então. Aquele primeiro já se chamara, dois anos antes, Bloco das Flores Brancas. Com sede na Praça Sérgio Loreto, à Rua Imperial, na residência do capitão Pedro Salgado, tinha por maestro o Príncipe Raul Morais, compositor e regente de sua marcha regresso.

Contrariando o que normalmente cita a maioria dos pesquisadores do gênero, o bloco Apôis Fum, originário da Torre, foi efetivamente fundado em 1923, e não em 1925 (chegando-se ainda a afirmar, absurdamente, o ano de 1929), conforme se pode depreender da edição do Jornal Pequeno, de 2 de fevereiro de 1923: “APÔIS FUM – No próximo domingo, a Torre estará pelo avesso, segundo profetizou o Raymundo da Elite. É o dia do ensaio batuta do batuta mestre Felinto com os seus meninos da orquestra Apôis Fum, que vai constituir a nota carnavalesca [...]”. Em número do Jornal do Commercio, de 4 de março de 1924, o Apôis Fum é citado, para não restar mais nenhuma dúvida quanto ao ano de sua fundação, como associação que se exibia naquele carnaval “com igual denominação desde o ano passado”, referindo-se ao carnaval do ano anterior, portanto o de 1923.

Os torreanos, aliás, sempre souberam dignificar a folia, dali saindo grandes agremiações, como foi o Um Dia Só, fundado pelo Prof. José Severino Calazans, regente dos coros das Igrejas Batistas da Torre e de Iputinga. Também fundou uma escola de primeiras letras na Rua Belarmino Carneiro. É de sua autoria a marcha de saudação aos grandes blocos da época, entre eles o Apôis Fum:

Em saudação sincera, o Bloco Um Dia Só,
A estes blocos tão apreciados,
Saúda todos com ouro em pó.
A todos desejamos, prazer e simpatia,
Vitória inconteste, que o povo ateste com alegria.


Um dia Só ainda chegou a ser Campeão da Cidade, mas, depois de dois anos de existência, desfez-se, por dissensões, surgindo daí um novo bloco, o Bobos em Folia, que logo teve por rival o sapeca Sabido Não Grita.

Infelizmente, é na Torre que ainda lembramos d’ A Dor de Uma Saudade, marcha composta por Edgar Morais em homenagem ao seu mano Raul, que viria a falecer em 8 de setembro de 1937, na Rua do Cailigeiro, hoje denominada R.Dom Manuel da Costa, no mesmo bairro.

Mas Edgar Morais também compôs marchinhas bem alegres, embora sem nunca abandonar o espírito saudosista, como se percebe em sua marchinhaValores do Passado:

Blocos das Flores, Andaluzas, Cartomantes,
Camponesa, Apôis Fum e o Bloco Um Dia Só.
Os Corações Futuristas, Bobos em Folia,
Pirilampos de Tejipió.
A Flor da Magnólia,
Lira do Charmion, Sem Rival,
Jacarandá, Madeira da Sé,
Crisântemos, Se Tem Bote e Um Dia
De Carnaval [...].

O Apôis Fum formava um bloco de notáveis, tendo em suas fileiras títulos de honraria militar que conferiam distinção social, adquiridos à Guarda Nacional, como ocorria com o capitão Fenelon Albuquerque e o coronel Francisco de Sá Leitão, seu presidente de honra. À frente das finanças, o então respeitado comerciante da praça, Raymundo Silva, proprietário do Salão Elite, o que lhe valeu o apelido de Raymundo da Elite. O seu principal representante, contudo, viria a ser o carnavalesco Felinto de Morais (um dos maiores violonistas da época), todos homenageados na composição do saudoso maestro Nelson Ferreira, Evocação nº.1 (1957):

“Felinto/ Pedro Salgado/ Guilherme/ Fenelon/ cadê seus blocos famosos: Bloco das Flores/ Andaluzas/ Pirilampos/ Apôis Fum/ dos carnavais saudosos! [...]”. (grifos do autor)

Embora nascidos em bairros distintos, era comum a muitos clubes possuírem sua sede em locais centrais, mais privilegiados em relação à freqüência popular. Foi assim, também, com o Apôis Fum: no ano de sua fundação, em fevereiro de 1923, o bloco instalara-se, “desde o sábado gordo até a 4ª feira, no confortável prédio, nº.39, à Rua da Imperatriz, tendo este firmado contrato com a Mme. Baldi, que ali mantém um salão de danças.” Também já se instalou na Rua Nova, sobre a famosa Confeitaria Crystal, ponto de grandes eventos da cidade e onde seis anos depois seria assassinado o então governador do estado da Paraíba, João Pessoa de Albuquerque, deflagrando-se a partir daí a famosa Revolução de 1930.

Seus ensaios, contudo, eram sempre realizados na Rua José Bonifácio (antiga Rua do Rio), no bairro da Torre, na residência do ilustre Sá Leitão – em local hoje correspondente ao prédio confronte ao SESI do mesmo bairro – de onde a famosa agremiação saía em préstito para saudar os seus concorrentes e o público em geral, notadamente a imprensa. Antes de qualquer apresentação, porém, o bloco subia a rua até as margens do imponente Capibaribe – em cujo leito iam rebolando suas águas, ao som da alegre fanfarra –, dali retornando para ganhar as ruas principais do bairro. Muitas vezes reencontravam-se, o bloco e o rio, em confraternização no centro do Recife, de onde as águas retomavam o rebolado da farra, para depois quedarem-se, exaustas, nos braços do mar.

Tais seções eram sempre muito apreciadas pelo público do bairro, que para ali acorriam em êxtase, como vemos por ocasião de seu primeiro ensaio, no dia 4 de fevereiro de 1923, um domingo de prévias carnavalescas: “Foi um sucesso o ensaio, ontem, da pesada orquestra Apôis Fum, bloco composto por famílias, senhoritas e rapazes da Torre. A casa do Sá Leitão foi invadida por uma onda polvorosa, onde todos faziam o passo do cavalo-do-cão não é aeroplano.” A prévia durou dez horas, iniciando-se o ensaio ao meio dia daquele festivo domingo, encerrando-se somente às 22 horas do mesmo dia. Ali já se marcara novo ensaio para a quarta-feira seguinte, acertando-se a quinta-feira para uma apresentação à imprensa, na Praça da Independência, às oito da noite, em frente ao Salão Elite, do tesoureiro Raymundo.

A apresentação à imprensa foi fantástica, como fantástico já se mostrava aquela danação do Apôis Fum, um bloco que viera para marcar, definitivamente, os carnavais recifenses. Às oito e meia, o povo já se exasperava no frevo, logo servido de farta mesa de bolinhos e “sandwichs, regalados à cerveja Antarctica e Teotonia”. Depois de muitos discursos, saudações e “mil vira-voltas”, o bloco voltou ao Elite, e lá permaneceu até a hora do regresso, que se deu às onze da noite.

No domingo de carnaval daquele ano, o Apôis Fum conquistava, de uma vez por todas, as ruas do carnaval recifense; trazia como destaque um carro alegórico que representava um bloco de neve, onde se postava sua porta-estandarte, uma bela jovem. Sua saída se deu às 15h, deixando a sede da Imperatriz para percorrer os principais pontos da cidade, visitando a ponte da Boa Vista, Rua da Concórdia, Campina do Bode (atual Cinco Pontas, no bairro de São José), Av. Lima Castro (atual R. Imperial), Praça da Independência, oPalácio do Governo, para depois retornar a sua sede, à Rua da Imperatriz. A sua inolvidável orquestra era composta de 24 violões, 6 cavaquinhos, 3 trombones de vara, 2 flautas, e reco-recos, 2 ganzás, 2 bombardinos, 2 bombardões, 1 saxofone, 2 surdos, 1 flautim, 3 pandeiros, 2 clarins, à frente o boêmio Felinto de Morais. Comandando os instrumentos de cordas, tanto quanto os de sopro, o Prof. José Lourenço da Silva, o Zuzinha, regente da Banda de Música da PMPE.

O carnaval seguinte, no ano de 1924, representou a verdadeira apoteose do bloco Apôis Fum. Nesse ano, a imprensa, pelo Jornal do Commercio, promovia um concurso para premiar os destaques do carnaval. O Jornal do Commercio inaugurava sua Seção Carnavalesca, atraindo várias casas comerciais para a doação de prêmios a serem conferidos aos melhores daquele período momesco. Os agentes da Ford, aqui no Recife, por exemplo, premiariam os dois automóveis que melhor se apresentassem no corso, desde que tivessem a marca Ford e pneus Goodyear.

Aquele fora um dos mais concorridos carnavais da cidade, impregnado de alegres clubes, tais como Dragões de Momo (S. José), Jacarandá (idem, fundado por Raul Morais), SeTem...Bote (Torre), Pyrilampos (Tejipió), Lobos de Afogados (Afogados), Philocríticos de Campo Grande (Campo Grande), Os Inocentes (Paulista), Andarilhos do Feitosa (Feitosa, atual Hipódromo), Apronta a Coisa que Eu já Chego (idem), Chora para Mamar (Av.Lima Castro, atual R. Imperial), Brinca Quem Pode (Casa Amarela – Av.Norte), e muitos outros alegres bandos recém-fundados. Num lapso de discriminação, os negros também se misturavam a tais empreendimentos, apresentando igualmente suas luxuosas fantasias, de ricos bordados e farto simbolismo.

A elite procurava os salões do Clube Internacional (à época ainda localizado na R. da Aurora) – cujos estatutos foram aprovadas em Assembléia Geral de 6 de outubro de 1895 – ou o Club Allemão, que teve nesse ano a sua sede improvisada em um navio – o DEKAPE – ancorado junto à ponte da Torre, ali realizando, a 10 de fevereiro, o seu “brilhante festival”.

Nada estancava a farra. Fartamente anunciada pelos jornais, a previsão de muita chuva, ao contrário do temor de repetição das recentes enchentes – como o Capibaribe a saltar de seu leito para misturar-se aos brincantes – provocou até um concurso de glosas, de onde podemos extrair a seguinte:

[...]
Momo de capa, galocha
E guarda-chuva? Não vai!
Como acender suas tochas,
Se a chuva abundante cai?
Como o frevo à rua sai?
[...]

Festa depreciada pela Igreja, nem os padres escaparam da língua ferina dos foliões:

Até os frades do convento
Na cela se sentem mal...
Eu digo, juro e sustento:
Eles, só por fingimento,
Não gostam do carnaval.

O grande poeta pernambucano Austro Costa também não deixava escapar uma alfinetada e disparava, mexendo nos dois institutos que mais apaixonam o povo pernambucano:

Não sei se devo ou não devo
Dizer, mas, digo, afinal:
Se até Roma fosse o frevo
Teria bênção papal.

Considerado um dos mais finos da cidade, o bloco Apôis Fum tinha a sua coreografia e decoração a cargo do mestre Eustórgio Wanderley, professor de Artes da Escola Normal do Estado. Seu quadro de maestros, compositores e coro destacava-se pelas figuras relevantes do velho Raul Morais, grande compositor de marchas para blocos, hoje um imortal da música carnavalesca;Augusto Calheiros – o Patativa do Norte - ; José Lourenço da Silva, o Zuzinha, regente da Banda de Música da Polícia Militar de Pernambuco, além dos irmãos Luperce e Romualdo Miranda, que depois viriam a compor o conjunto Turunas da Mauricéia, juntamente com Augusto Calheiros (voz), João Frazão (diretor e violão), o cego Manuel de Lima (violão), e o irmão João Miranda (violão), fazendo grande sucesso suas apresentações no Rio de Janeiro.

Outro famoso maestro daquela década, Miguel Barkokebas, também compôs parte do repertório do bloco, como a marchinha Esse Bloco é Meu, embora assinasse com o pseudônimo João Sem Nome, talvez devido às estreitas relações com a Paróquia de Nª.Srª.do Rosário, da Torre, para quem compunha os hinos religiosos apresentados todos os domingos na missa das 9h. Viria a falecer em 14 de agosto de 1978, mas deixaria o registro de seu encanto pelo Apôis Fum:

[...]
Olhem bem o nosso bloco,
Que é o rei do frevo e o rei do passo.
Nem Pierrô, nem Colombina,
Nem Arlequim e nem Palhaço.
Preto e branco se irmanam
Esquecem tudo, dão-se o braço,
Nesse entrudo do Recife
O rico e o pobre estão no no passo.


Finalmente, em 26 de fevereiro, o Jornal Pequeno registrava a saída do bloco, “da Torre para o Recife, em bondes especiais, para apanhar o seu estandarte de honra (flabelo) em casa de um sócio de destaque, na Av. Conde da Boa Vista, sendo homenageado depois por moradores da Rua dos Pires, dali seguindo para a Praça da Independência”, onde participou de animada festa com queima de morteiros de fabrico alemão. Bastante apreciado, o bloco logo conquistara as graças do povo pela simpatia de seus adereços e a vibração de seus componentes. Ganhou o primeiro lugar entre os Clubes de Críticas, recebendo a TAÇA JORNAL DO COMMERCIO, oferecida pela empresa J. L. Krause & Cia.

O Bloco das Flores, grande campeão em 1923 e principal concorrente do Apôis Fum, mereceu apenas menção honrosa, cabendo-lhe uma minoria de votos entre os membros da comissão julgadora. Pedro Salgado, seu presidente,esperneou, mas não levou, indignado por manter o novo campeão “particularidades formuladas como incompatíveis ao característico do bloco.” Referia-se, principalmente, à sua orquestra de metais, justamente o que mais impressionara a multidão de momo. Esbravejou: “Eu tenho um bloco e não um clube de carnaval...”, e retirou-se do carnaval.

Daí por diante, o Recife viveu carnavais como nunca antes se apresentara, diante do espírito de concorrência que se criara entre as agremiações.
O Apôis Fum imortalizara-se sempre se destacando como principal agremiação e levando aos foliões alegria que só nos seus acordes encontrava o melhor dos blocos líricos, tradição que hoje se renova pelas velhas ruas dos carnavais saudosos.


Recife, 6 de fevereiro de 2009.


FONTES CONSULTADAS:
AMORIM, Leny. Música e Músicos de Pernambuco. Recife: Ed. do Autor, 2006.
Diario de Pernambuco, Recife, 14 abr. 1993. [Fundaj/Fonoteca]
Diario de Pernambuco, Recife, n. 66, 1916. [APEJE, R.do Imperador]
ESTATUTOS do Clube Internacional do Recife, 1895. [BEP]
Jornal do Commercio, Recife, 4 mar. 1924. [Fundaj/Microfilmagem]
Jornal do Commercio, Recife, 5 fev. 1924. [Fundaj/Microfilmagem].
Jornal do Commercio, Recife, fev. 1925. [Fundaj/Microfilmagem]
Jornal Pequeno, Recife, 2 fev. 1923. [Fundaj/Microfilmagem]
Jornal Pequeno, Recife, edições fev./mar. 1924. [Fundaj/Microfilmagem]
LIMA, Cláudia. Evoé. História do Carnaval: das tradições mitológicas ao trio elétrico. Recife: Ed. Raízes Brasileiras, 2001.
MAIOR, Mário Souto; SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Recife: Fundaj, Ed.Massangana, Recife, 1991.
MÁRIO FILHO. O teu cabelo não nega. A história carnavalesca dos grandes poetas João e Raul Valença. Recife: Rádio Capibaribe do Recife, 1992. [Fundaj/Fonoteca]
OLIVEIRA, Waldemar de. Frevo, capoeira e passo. Recife: CEPE, [19--?]. p. 15.
REAL, Katarina. O Folclore no Carnaval do Recife. Rio de Janeiro: Min. Educ. e Cult., 1967.
SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Raul Moraes. Repértório variado. Recife: Ed.Massangana, 2003.
SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Um sonho de folião. Recife: Ed.Bagaço, 1996.



FONTES ORAIS:
MAESTRO Edgar Morais. Entrevista à TV Universitária do Recife, 8 ago. 1973. [Fundaj/Fonoteca].
DEPOIMENTOS de Toinho Valença, filho de João Valença; Baltazar Valença, filho de Raul Valença. Sítio dos Valença, Madalena, mar. 2006.




COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: Montarroyos, João. Bloco Apôis Fum: o lirismo e a ousadia de momo. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.


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* Texto inédito em publicações sobre o bloco Apôis Fum e faz parte do livro Uma Década de Ouro no Carnaval do Recife, do mesmo autor, a ser lançado em AGO/2009. Direitos autorais reservados.
** Professor de História, escritor e pesquisador de História Social de Pernambuco. Premiações: Bloch Editores / CEF - Monografia Érico Veríssimo (1978); Menção Honrosa FJN (1980); ALEPE – Monografia Pereira da Costa (2001). Desenvolve ao longo dos últimos cinco anos projeto particular de Educação Patrimonial, levando o discente a descobrir e conhecer o conjunto histórico material e cultural do Estado.


Fonte desta postagem:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=472&Itemid=181

Fonte da imagem:
http://www.lainsignia.org/2008/febrero/cul_002.htm

P.S.:
Miguel Barkokebas, ao ler seu nome nesse artigo bateu saudade. Era o meu velho professor de canto orfeônico, naquele centro de excelência em ensino público, que era o meu querido Ginásio Pernambucano, nos idos de 1968.
Saudades, Mestre.
Devo-lhe parte de minha formação musical e artística.
Obrigado.

(Eurico - 01/03/2011)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Frevo de Bloco - por Júlio Vila Nova


Bloco Carnavalesco Lírico Cordas e Retalhos



















O Frevo-de-Bloco


O Frevo-de-Bloco é a música das agremiações tradicionalmente denominadas “Blocos Carnavalescos Mistos”, cujo aparecimento no cenário do carnaval pernambucano registra um interessante dado sociológico: o início da efetiva participação da mulher (sobretudo da classe média) na folia de rua do Recife.

A tendência atual, porém, é a de se adotar a denominação “Blocos Carnavalescos Líricos”, que foi inscrita pela primeira vez num flabelo (o abre-alas do bloco) pelo Cordas e Retalhos, conforme assinalamos em Bloco Lírico, artigo publicado na imprensa em 24/02/2001. Sobre os blocos, já afirmou Leonardo Dantas que é onde está “a melhor parte da poesia do carnaval pernambucano” (1998:32).

Resultado de influências como as manifestações natalinas do Pastoril e dos Ranchos de Reis, além da música dos saraus e serenatas promovidos pelas famílias dos bairros de São José, Santo Antônio e Boa Vista, em princípios do século XX, o Frevo-de-Bloco configurou-se como música de caráter sentimental, profundamente lírico. Daí a pertinência do nome assumido pelos blocos, bem a propósito de uma necessária releitura desse gênero que é freqüentemente tomado como monocórdio, baseado apenas no tema da saudade, como via de regra é abordado na imprensa.

Uma discussão interessante sobre a importância da saudade e a recorrência do tema saudosismo no Frevo-de-Bloco é apresentada por Amílcar Bezerra e Lucas Victor, no excelente Evoluções! Histórias de bloco e de Saudade (2006). Eles analisam os significados que a saudade assume ao longo da evolução do Frevo-de-Bloco, chegando à conclusão de que “saudade, carnaval e identidade são inseparáveis” (2006:102). Isso nos parece muito importante para a compreensão de que os blocos líricos e o Frevo-de-Bloco são valiosos porque constituem traços marcantes de nossa identidade. O bloco não é apenas uma “manifestação propositadamente passadista” (Teles 2000:51), mas é um espaço de convivência humana marcado pela arte e pela defesa de uma tradição que se renova e se reconstrói a cada carnaval. Essa tradição, reinaugurada a partir dos anos 70 do século XX pelo Bloco da Saudade, ganha novas cores e novos nomes a cada ano.

De fato, uma olhada mais atenta às letras do Frevo-de-Bloco revela não apenas a saudade antecipada, pelo carnaval que vai acabar (sobretudo nas marchas-regresso, cantadas pelos blocos em sua despedida da folia); ou a saudade de uma época passada, como nos versos de Evocação nº 1 (Nelson Ferreira) ou Relembrando o Passado (João Santiago), ambas gravadas na segunda metade dos anos 50, quando grande parte dos blocos da primeira geração já havia desaparecido. Observa-se também a elaboração de um discurso pautado pela necessidade de enaltecer e exaltar valores. Verificamos então que o Frevo-de-Bloco cada vez mais tem se construído discursivamente como uma grande propaganda, tendo como objetos a cidade (Recife, Olinda e outras), o carnaval ou as próprias agremiações. Com base no discurso persuasivo, busca-se a adesão do ouvinte/leitor, através do emprego de substantivos, adjetivos e verbos que ressaltam qualidades. Os exemplos são muitos, e podem ser encontrados no repertório de quase todos os blocos:

“O Cordas e Retalhos é assim /(...)/
reúne foliões, espalha alegria/
evoluindo com graça e harmonia”
(de Airton, Leila e Eliane Chaves)


“Vitória-Régia (...)/
És o poema, o tema e a lira /
E a flor que inspira nosso carnaval”
(Romero Amorim e Getúlio Cavalcanti)


“Em plena folia querida /
Rebeldes é o bloco que não tem rival”
(Edgard Moraes)


“Vem conhecer o que é harmonia nesta canção /
O Inocentes apresenta um lindo panorama de folião”
(Luiz de França)


“Recife, cidade do Frevo,
De blocos afamados e maracatus,
Cidade que a todos encanta
Tu és a Veneza do meu Brasil”
(José Moraes)


O tempo empregado é o presente, e muitos exemplos caracterizam a função conativa (ou apelativa) da linguagem, quando a ação verbal é orientada ao destinatário na forma de uma exortação, chamamento ou evocação:



“Vem, vem, vem folião
vem que o Recife te espera”
(José Moraes)


“Não deixem Batutas morrer”
(Álvaro Alvim)


“Acorda que chegou a hora /
vamos cair na folia”
(João Santiago).

Trata-se aqui de suscitar uma nova leitura sobre esse gênero musical às vezes estigmatizado como algo exclusivo de foliões mais velhos, uma visão distorcida e até preconceituosa, que reproduz o etarismo (preconceito contra pessoas de idade avançada). A respeito do lirismo que identifica os blocos e sua música, já se afirmou, inclusive, por absurdo que pareça, que ele seria o “culpado” por uma suposta estagnação do Frevo, tal como se publicou a propósito da crítica a um dos CDs da série Recife Frevoé, lançado pela Prefeitura do Recife em 1999:


“Ouvindo a parte dos compositores novos (depois de um concurso promovido pela PCR), dá pra arriscar mais um motivo que explica a falta de inovação do frevo. Os novos frevistas herdaram o lirismo dos antigos.” (Diário de Pernambuco, 20/01/1999) [grifo nosso]


Esse discurso adotado pela imprensa revela o desconhecimento sobre a dinâmica que tem caracterizado a evolução do Frevo-de-Bloco, sobretudo a partir dos anos 90 do século XX, quando o Recife e outras cidades vêem surgir um grande número de agremiações, várias delas registrando sua produção musical (em muitos casos bastante inovadora) em CD e protagonizando momentos de celebração em diversos eventos durante o carnaval e ao longo do ano inteiro.


JULIO VILA NOVA
Autor de Panorama de folião: o carnaval de Pernambuco na voz dos blocos líricos (Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2007)
Professor, Mestre em Lingüística pela UFPE
Presidente do Bloco Carnavalesco Lírico Cordas e Retalhos
juliovilanova@ig.com.br
cordaseretalhos@uol.com.br


Fonte do texto:
Site da Fundaj

Fonte da imagem:
http://cordaseretalhos.zip.net/