"E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava?
Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate.
Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas.
Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim.
Carnaval era meu, meu."

(Clarice Lispector )







quarta-feira, 8 de abril de 2009

O ovo ou a galinha - o homem ou a cultura?

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Prezado Compadre,


Eis que essas cartas estão tomando um rumo que me fazem lembrar de uma perguntinha, aparentemente inocente e jocosa, mas que se encaixa bem no nosso tema:
Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
Ou seja, quem surgiu primeiro, o homem ou a cultura?

Perguntinhas da carinha de bobas, né? Mas , como diria Ortega y Gasset, não é em vão que elas trazem os curvos ganchos da interrogação.

Pois é nessa mesma linha de reflexão que o Dr. Crippa, mutatis mutandis, levanta algumas interessantes questões. À página 183, de seu Mito e Cultura, ele pergunta:

“Como poderia o homem criar palavras e símbolos antes de possuir o sentido da comunicação? Como edificaria uma casa antes de sentir a necessidade de habitar? Como ergueria um templo antes de uma experiência religiosa do sagrado?”

Três perguntinhas interessantes, e que vão, definitivamente, adiando o desfecho que julgávamos haver na carta anterior, num é mesmo, compadre?

Se não, vejamos: para o Dr. Crippa “há uma linguagem primordial, da mesma maneira que há um residir antes do habitar, um sentir e um imaginar que antecipam as expressões artísticas, uma manifestação primordial do sagrado antes de uma verdadeira experiência religiosa.”

Decorre dessas afirmações que: “para agir e expressar-se em formas e atividades significativas, o homem deve estar dotado de formas radicais que tornem possíveis tais expressões.”

Eis que surge uma nova questão que também adiará o desfecho desta carta, e que deixo para a meditação de meu compadre:

Se o espírito humano necessita dessas formas radicais que preexistiam numa anterioridade absoluta, num prius, de que instância recolhe o homem essas protoformas que orientam sua força imaginativa e criadora?


Até a próxima e
receba o abraço fraterno
de seu compadre e amigo,

Eurico


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4 comentários:

Bia disse...

Querido amigo Eurico!

Estive em Olinda quando completava meus 15 anos....
E nunca vou me esquecer daqueles garotinhos, que mais pareciam uma "vitrola", nos seguindo e contando toda a história daquele tão fabuloso lugar....e até hoje tenho em minha memória, eles nos dizendo assim:
Quando chegaram em Olinda, ao avistarem tão precioso lugar, falaram assim:-Ó...LINDA situação para se montar uma vila...
E dizem que assim, por esta forma de expressão, que nasceu o nome OLINDA...

Um beijo meu querido....e seja sempre muito bem vindo lá no meu cantinho...

Bia Maia

http://olhardentrodosolhos.blogspot.com

Ilaine disse...

Carlinhos, querido!

E quem foi que teve saudades por primeiro???
Linda carta a do compadre, não é?

Olinda... Sempre! Ó linda!!!
Beijo

Carlinhos do Amparo disse...

Bem vinda, amiga Ilaine. Que bons ventos a tragam. Que brisas benfazejas soprem sobre ti e os teus, aí na distante Dinamarca, e os cá da querida Porto Alegre.

Abraço caloroso e fraterno.

Ilaine disse...

Carlinhos!

Obrigada pelas palavras sempre tão carinhosas.
Obrigada por estas aí em cima e aquelas que você deixou no Ensaios.

Abraço
A gente se fala, não é?